Buondi Art Collection, Uma Homenagem à Arte do Século XX


Por vezes a mensagem que se pretende transmitir num pacote de açúcar (ou mesmo numa série) não é facilmente percecionada por um qualquer consumidor fortuito à mesa de um café ou esplanada, nem mesmo pelo colecionador mais atento daqueles objetos de coleção.

Essa mensagem que uma determinada marca de café ou empresa embaladora pretende transmitir ao público pode ser materializada numa frase, palavra ou sigla que não seja de imediato entendida pelo seu leitor. Por outro lado, embora a expressão popular nos diga que “uma imagem vale mais que mil palavras”, é certo que, também uma imagem sem contexto, poderá revelar-se um enigma aos nossos olhos.

Daí que a investigação e a procura por informações que conduziram à produção daquele ou daqueles pacotes de açúcar, bem como da mensagem que se pretende veicular, deverão ser os passos a seguir por qualquer colecionador que pretenda valorizar (e não estou a falar do valor monetário) a sua coleção. A alternativa será arquivar este(s) pacote(s) de açúcar, junto(s) com outros tantos, a engrossar mais um dossier da coleção na nossa estante ou armário…

Vem este preâmbulo a propósito de uma série de 6 pacotes de açúcar, em formato stick, com imagens de pinturas mais ou menos abstratas, lançada pela Buondi Caffè no ano 2000 que, à falta de mais informação (o acesso à internet, naquela altura, para muitos de nós, ainda era uma novidade), foi batizada apenas com o nome “Buondi - Pinturas”, designação que perdura até aos dias de hoje (ver pacotada S.2000.01).

No entanto, numa consulta, por essa mesma altura, ao site da Buondi teríamos a informação da produção de uma coleção de 6 chávenas com a recriação de obras de alguns pintores internacionais, à qual designou “Buondi Art Collection”. Embora nada era dito sobre a nossa coleção, as imagens eram as mesmas dos pacotes de açúcar, com a vantagem de se apresentarem totalmente visíveis, ao contrário das que podíamos observar nos nossos sticks, devido às caraterísticas do seu formato.

Para além disto, ficaríamos a saber que, com a produção da coleção de chávenas (eu acrescento a dos pacotes de açúcar), a Buondi quis prestar homenagem, na entrada do novo milénio, à arte do século XX através da recriação de obras de alguns dos nomes mais marcantes da pintura. Uma homenagem muito especial aos grandes pintores que contribuíram para o enriquecimento da cultura nos nossos tempos, como Van Gogh, Picasso, Léger, Chagall, Matisse e Miró, cujas ideias se perpetuaram no tempo em obras que hoje admiramos.


Infelizmente esta informação, atualmente, já não consta do site institucional daquela marca, prevalecendo, no entanto, uns prints do écran (em boa hora o fiz, e agora recuperei perdidos no meu computador), que serviram de mote para a realização da pagela que elaborei e partilho de seguida.

Outra informação relevante para a caraterização desta série de pacotes de açúcar, e que normalmente não está acessível ao grande público, é a empresa responsável pela elaboração das imagens gráficas, a NOVODESIGN, pelas mãos da designer do projeto, Sofia Oliveira, e ao qual denominou “Buondi Art Collection 98”.

Partilho a pagela em formato pdf, que poderão descarregar aqui.

Fontes: 

Buondi Caffe, https://www.buondicaffe.com consultado em 21 outubro 2004; 

Biografias, https://www.ebiografia.com

Nota: Post publicado inicialmente a 12 setembro 2022 em https://www.facebook.com/pacoteca.acucar

DETA, Primeira Companhia Aérea de Bandeira Portuguesa com Pacotes de Açúcar

 

A Divisão de Exploração dos Transportes Aéreos (DETA) foi fundada a 26 de agosto de 1936, para assegurar as ligações internas em Moçambique e com os territórios vizinhos. Como curiosidade, esta companhia funcionava como uma divisão da administração da Direção dos Serviços de Portos, Caminhos de Ferro e Transportes de Moçambique (CFM).

À data, sendo Moçambique um território português, a DETA foi a 3ª companhia aérea a operar sob domínio da bandeira de Portugal (depois da SAP - Serviços Aéreos Portugueses e da Aéro Portuguesa) e a 2ª companhia aérea mais antiga a operar em África (a seguir à SAA - South African Airways).

A DETA, que inicialmente era mais vocacionada para transporte de carga e correio, transportou no seu DH Dragonfly CR-AAB o primeiro passageiro a 8 de agosto de 1937. Nesse voo o piloto Manuel Maria da Rocha transporta o Encarregado de Negócios em Pretória, de Lourenço Marques (atual Maputo) a Luanda, na primeira ligação entre as capitais das duas grandes colónias africanas por um avião comercial português.

A 22 de dezembro de 1937, mais uma vez, através do seu piloto Manuel Maria da Rocha e aos comandos do DH Dragon Rapide CR-AAD, a companhia inaugura as carreiras regulares internacionais, com um voo entre Lourenço Marques, mais precisamente do campo militar da Carreira de Tiro na Polana (única pista existente até então na capital moçambicana) e Germiston (aeródromo que servia, à época, a cidade sul-africana de Joanesburgo).


Os voos internos regulares tiveram apenas o seu início a 11 de abril de 1938, ligando Lourenço Marques, a partir da recentemente inaugurada pista de Mavalane, a Quelimane, com escalas intermédias em Inhambane e Beira. Aterravam ainda os aviões em Vila João Belo e Mambone sempre que fosse solicitado por passageiros com destino a estas localidades. A 11 de outubro estendeu-se este serviço a Porto Amélia com paragem no Lumbo, começando os aviões a escalar obrigatoriamente Vila João Belo, estabelecendo assim a que ficou conhecida como a “Carreira da Costa”.

Em 1940 a companhia sofre o primeiro revés na sua operação, quando foram suspensos todos os seus voos para Joanesburgo em consequência do estado de guerra entretanto decretado na vizinha África do Sul. Ficava assim a DETA limitada a voos domésticos pela primeira vez na sua curta história.

Neste interregno foi em setembro de 1940 iniciada uma carreira aérea para Tete com frequência semanal, escalando na ida Inhambane e Beira e no regresso Quelimane, Beira e Inhambane.

No período da segunda grande guerra a companhia enfrentou igualmente graves constrangimentos na obtenção de combustível e peças para os seus aviões.

A 23 de fevereiro de 1944, uma verdadeira tragédia atingiu a companhia quando o Lockeed Super Electra (CR-AAV “Limpopo”) se despenhou 6 minutos após a descolagem da pista de Quelimane, morrendo o comandante, o mecânico, o comissário de bordo e todos os seus 6 ocupantes.

Em fevereiro de 1946, a DETA, torna-se membro de pleno direito da Associação Internacional de Transportes Aéreos (IATA).

Em 1951 são iniciadas as carreiras para Durban (África do Sul) e Salisbúria (Zimbábue), além de outros pontos no interior de Moçambique.

Em julho de 1962 dá-se o grande salto qualitativo na empresa, quando esta recebe o primeiro de um lote de três Fokker F27 - 200 Friendship, encomendados em 1961. Era o começo da era do turbo propulsor na DETA.

Em outubro de 1968 encomendou a DETA o seu primeiro equipamento a jato puro, dois Boeing 737-200 que foram recebidos nos finais de 1970, tendo iniciado a sua operação comercial em fevereiro de 1971.

Foi assim a primeira companhia aérea portuguesa a operar o bi-reactor de médio curso da Boeing.

As maiores exigências das aeronaves e da evolução dos próprios serviços levaram, ao longo dos anos, à ampliação da superfície ocupada pelo Aeroporto de Lourenço Marques e à execução de obras e instalações compatíveis com um aeródromo internacional.

Em 17 de junho de 1963 é então inaugurado o novo aeroporto, rebatizado Gago Coutinho, em comemoração da chegada ao Rio de Janeiro do avião em que Gago Coutinho e Sacadura Cabral completaram a primeira travessia do Atlântico Sul, as instalações da antiga aerogare, passaram a albergar a Sede da DETA, após ampliado, mantendo-se com a atual traça arquitetónica.

No início da década de 1970 alterou a designação para DETA – Linhas Aéreas de Moçambique.

Chegamos assim a 1975, ano em que Moçambique se tornou independente, e um ano depois surgem os primeiros voos intercontinentais com aviões Boeing 707 e Douglas DC-8, realizando rotas que seguiam de Maputo a Lisboa, passando por Beira, segunda maior cidade de Moçambique, e Accra, capital e maior cidade do Gana.

Nos anos seguintes a DETA sofre profundas alterações que passaram pelo seu estatuto e mudança de designação a 14 de maio de 1980 para LAM – Linhas Aéreas de Moçambique.

Partilho a pagela com os pacotes de açúcar que conheço desta Companhia Aérea, que poderá assim ser a primeira companhia aérea de bandeira portuguesa a ter pacotes de açúcar. Descarrega a pagela em formato pdf aqui.

Fontes: 

- “DETA - Os primeiros passos de uma grande companhia”, Revista MAIS ALTO, Set/Out 07;

- “DETA - Divisão de Exploração de Transportes Aéreos de Moçambique - 1ª Parte”, Revista TAKE-OFF, Jul 2012.

Nota: Post revisto a atualizado de um publicado inicialmente a 24 maio 2022 em https://www.facebook.com/pacoteca.acucar

“Fábricas Triunfo, a Maior Organização Industrial do Centro do País”

A empresa “Fábricas Triunfo” teve origem na Sociedade de Mercearias Lda, fundada em 1913, na Rua dos Oleiros, em Coimbra, pelas mãos de um grupo de empresários desta cidade liderados por Mário Pais e Adriano Viegas da Cunha Lucas. Um projeto que viria a ser um dos motores de toda a região de Coimbra e que iria criar aquela que ainda é hoje uma grande referência de bolachas em Portugal.

As instalações fabris localizavam-se junto à linha de caminho de ferro, na margem direita de rio Mondego, numa base industrial ainda muito ligada à produção e ao comércio tradicional e local e à venda de produtos de mercearia e produção de farinha, azeite, vinagre e aguardente. Numa mudança de escritura em 1922, passa a designar-se Sociedade de Mercearias e Farinhas Lda, onde já se vendia farinhas e sêmeas de trigo, para além da sua vertente de mercearia. Ainda no mesmo ano, volta a mudar de nome para Sociedade de Mercearias e Fabril Lda, um passo que a inseriu na indústria da moagem e panificação, e na produção de massas alimentícias e bolachas, permitindo um grande crescimento da fábrica e aumento de produção. Em 1923 dispunha já de filiais em Lisboa e no Porto e nos anos 30, a empresa adquiria unidades moageiras em outras localidades, nomeadamente em Castelo Branco e Setúbal.

Por fim, alcança o nome tão conhecido, Fábricas Triunfo Lda, a 20 de abril de 1932, apresentando-se como um dos edifícios industriais mais notáveis da baixa da cidade, sendo composta por 5 corpos, com 3 funções diferentes: a moagem, a produção de massas e a produção de bolachas e biscoitos (figura 1).

A 8 de dezembro de 1938, a fábrica sofreu um grande incêndio que afetou a maior parte das instalações, apenas se salvando a parte da moagem, situada nas traseiras do edifício. No entanto, logo após o ocorrido, em 1939, foi iniciada a construção de uma nova fábrica no mesmo terreno, segundo um projeto do arquiteto A. Machado da D.G.E.N. e construção de A. Maia. O novo edifício, finalizado em 1940, tinha uma estrutura de betão armado e ferro, uma forma de defesa para evitar eventuais posteriores incêndios (figura 2).

Os anos 40 trouxeram grandes progressos no processo de produção, com a implementação de rigorosos controlos de qualidade e um laboratório de análises e testes na própria fábrica. Nesta altura a empresa empregava cerca de 500 trabalhadores, destacando-se pela sensibilidade e ação social e higiénica para com os seus operários.

Após este período e a aprovação do plano de urbanização de Étienne de Gröer para a cidade de Coimbra nos anos 40, a fábrica viu-se obrigada a transferir as suas atividades para a “Zona Industrial da Pedrulha” na década de 50, levando ao abandono progressivo da fábrica na baixa. A unidade de fabricação de massas, na Rua dos Oleiros, que funcionou ainda como sede da empresa, encerrou na década de 80 e em 2004 estas instalações foram demolidas.

Em 1949 deu-se então início à construção da nova Fábrica Triunfo Bolachas, cujo corpo principal apenas seria finalizado em 1953, e que se localizava na Rua Manuel Madeira, antiga Estrada Nacional nº1, Freguesia de Eiras, Zona Industrial da Pedrulha, em Coimbra.

Esta fábrica era constituída por um edifício central de caráter industrial e destinava-se à fabricação dos produtos. A fachada principal era dotada de uma torre e um grande painel de azulejos que decorava todo o conjunto. Este painel azulejar, em formato circular, do artista A. Ramos, possui a inscrição “Fábrica Triunfo - Porto - Coimbra - Lisboa” que emoldura uma imagem, de linguagem renascentista, de um cavaleiro triunfante no seu cavalo alado, inspirada na obra “Le Triomphe de l’Art” de Léon Bonnat (figura 3).

O volume junto à antiga Estrada Nacional destinava-se à receção, a salões de festa, gabinetes e ao embalamento final. Os armazéns de matéria-prima encontravam-se no corpo posterior das instalações. Foram construídos dois pequenos edifícios adjacentes ao edifício central, um deles destinava-se à central "diesel", elétrica e geradora de vapor e outro era dedicado à central geradora de gás pobre. Outro edifício foi também erguido a sul das instalações principais, destinado a serviços sociais, a um refeitório e ainda a uma garagem. A norte foram ainda construídos armazéns de descasque de arroz e ainda um infantário.

Um elemento publicitário, de 1961 – com um desenho das novas instalações da unidade de massas e bolachas da Pedrulha refere as Fábricas Triunfo como “a maior organização industrial do centro do País” (figura 4). Presente em Coimbra, e com delegações em Lisboa, Porto, Abrantes e Faro possuía, então, duas moagens e produzia massas alimentícias, bolachas, arroz, drops e rebuçados.

A implantação da unidade fabril Triunfo Bolachas em 1949, a par com a grande procura dos produtos ali produzidos e o crescimento económico da empresa, despoletou a atração de novos ramos industriais. Neste contexto surge uma nova fábrica da mesma sociedade e do mesmo setor industrial, mas de um ramo diferente que se destinava à produção de alimentos compostos para animais, vulgo rações (figura 6).


A fábrica Triunfo Rações acabou por instalar-se num terreno de geometria triangular, muito próximo do local onde já estava implantada a Fábrica de Bolachas da mesma sociedade. No entanto, estas instalações fabris tinham a vantagem de usufruir diretamente da linha de caminho-de-ferro, através de um ramal particular para o transporte da matéria-prima, o trigo, que era armazenado nos silos de cereais, localizados junto à linha. A construção desta fábrica, que se iniciou pelos silos em 1956, foi sendo alvo de sucessivas ampliações, ao longo das décadas de 60 e 70. Para além dos silos, a fábrica era composta por um imponente bloco industrial vertical, destinado à moagem, e por dois armazéns (figura 5).

Com a década de 50 a marcar um período de grande expansão, a Triunfo oferecia aos consumidores portugueses, já naquela altura, mais de 25 variedades de bolachas diferentes, entre as quais a Maria, Torrada ou Wafers.

Em 1974, as Fábricas Triunfo abrem a sua primeira fábrica em Lisboa, em Carnaxide, dedicada à produção de bolachas e massas, numa fase em que se consolidava o mercado interno e o objetivo era internacionalizar a marca.

As Fábricas Triunfo de Coimbra e Lisboa integravam, assim, a produção de bolachas, massas alimentícias, descasque de arroz e rações para animais, chegando a empregar, na década de 70, mais de um milhar de trabalhadores. Até esta mesma década as bolachas eram vendidas maioritariamente a peso nas mercearias, que as adquiriam em latas de 1,5 kg a 3 kg e que ostentavam belos e atrativos desenhos publicitários (figura 7).

A marca Triunfo foi, aliás, a primeira marca de bolachas a aparecer na televisão portuguesa. Esta presença histórica, nos principais meios de comunicação e outdoors, levou a marca a beneficiar de uma relação de grande proximidade com os consumidores (figuras 8 e 9).

A empresa viria a ser adquirida em 1994 pela Nutrinveste, holding do Grupo Mello, que passou também a deter as marcas Nacional e Proalimentar, ficando por isso responsável pela gestão de 90% da produção nacional de bolachas (figura 10). Por decisão do novo dono, a Fábrica Triunfo Bolachas de Coimbra, que empregava nesta altura 180 funcionários, encerrou a 30 de março de 2001, sendo a sua produção transferida para as instalações de Sintra, de Mem Martins (ex-Nacional).

Atualmente o cenário é de degradação e abandono total de uma unidade fabril que outrora empregava um número significativo de funcionários e partilhava o seu agradável odor com toda a área envolvente da Pedrulha.

Também a Fábrica de Rações caiu no abandono após uma última vistoria realizada em 1999 com parecer negativo, levando ao seu encerramento.

Neste contexto, a Triunfo, como líder destacada de mercado em bolachas, é identificada como a marca prioritária dentro do portfolio da Nutrinveste quer em termos de apoio publicitário, quer em termos de inovação. No final de 1999, a Triunfo lança um dos produtos mais bem sucedidos no mercado de bolachas em Portugal, as Chipmix. Uma inovação em toda a linha, quer em termos de produto e embalagem, quer em termos de comunicação – altamente irreverente para um público mais jovem.

Em 2004, a Triunfo passa a integrar o portfolio da multinacional United Biscuits, uma das principais empresas europeias no setor da alimentação, e a marca toma um novo rumo estratégico, focando-se nos segmentos Nutrição, Saúde e Tradição (figura 11). A Triunfo absorve a marca Proalimentar e lança mais dois grandes sucessos: Triunfo Digestive e Triunfo Mini Diver.


Dois anos mais tarde, em 2006, a multinacional norte-americana Kraft Foods adquire o negócio de bolachas à United Biscuits, incluindo a unidade fabril de Mem Martins e as marcas portuguesas Triunfo e Proalimentar (figura 12). O ramo português desta multinacional passa então a designar-se “Kraft Foods Portugal Ibéria – Produtos Alimentares, Unipessoal, Lda”. Nesta fase, a Triunfo reforça a sua presença no segmento Tradicional, lançando desde então vários produtos inovadores, como por exemplo, em 2011, os Mini Clássicos, um novo conceito que oferece ao consumidor as bolachas tradicionais de sempre num formato mini e numa embalagem “saco”, ideais para partilhar em família. Em 2013 a área de negócios da Kraft Foods dedicada aos snacks mudou de nome e de acionistas, passando a designar-se Mondelez International (figura 13).

Ainda em 2013, a Triunfo celebrou o seu centésimo aniversário como uma das grandes marcas portuguesas, produzindo bolachas não só para o mercado português, mas também para países onde existem emigrantes portugueses, como França ou Luxemburgo, e para as ex-colónias portuguesas, principalmente Angola (figura 14).

Em finais de 2015, a multinacional Mondelez, alegando a baixa utilização da capacidade de produção da fábrica em Mem Martins, que emprega nesta altura 92 trabalhadores, comunica a decisão do seu encerramento, com vista à deslocalização da produção para a sua nova fábrica em Opava, na República Checa.

No entanto, em março de 2016, a empresa Cerealto chegou a acordo com a Mondelez International para manter a atividade industrial na fábrica de bolachas de Mem Martins (figura 15). Este acordo contemplou a manutenção dos postos de trabalho desta unidade, assim como a venda, à Cerealto, da maquinaria e das linhas de produção de que a Mondelez International era proprietária. A operação não incluiu a venda de nenhuma das marcas da Mondelez, contudo, este contrato, previa que a Cerealto fabricasse alguns produtos para a Mondelez.

A compra da fábrica de Mem Martins foi ao encontro da estratégia de expansão internacional da Cerealto – que é a sua segunda fábrica em Portugal, após a aquisição, em 2013, à Danone, da instalação de alimentação infantil Nutriceal Foods, localizada em Benavente, Santarém.

A Cerealto é uma empresa de alimentação com uma história de mais de 25 anos de fabrico de produtos com base cereal em diversas categorias: bolachas, cereais de pequeno-almoço, alimentação infantil, pão, pastelaria, massa ou produtos sem glúten. Apoiada por mais de 14 fábricas em Espanha e um centro de referência de R&D na Europa, a Cerealto conta com centros de operação em Portugal, Itália, Reino Unido, México e nos Estados Unidos e tem clientes em mais 40 países.

Ao longo da sua já centenária história, a marca Triunfo foi sendo alvo de diversas modificações do desenho do seu logótipo, tornando-o mais moderno e apelativo. Em resultado da consulta de alguns itens publicitários da marca, apresenta-se na figura 16 uma evolução desses logótipos até aos dias de hoje.


A propósito do primeiro pacote de açúcar mostrado na pagela apresentada nas imagens, onde se refere “bolachas Triunfo, uma preferência portuguesa”, provavelmente da década de 60/70, deixo aqui também uma curiosa publicidade dada Triunfo, publicada na Gazeta de Coimbra em dezembro de 1938, muito ao estilo do Estado Novo.


Convido ainda a verem o seguinte vídeo, onde se relatam os primeiros 100 anos da história da marca Triunfo:

Partilho a pagela em formato pdf, que poderão descarregar aqui.

Fontes: 

- “Arquitetura Industrial em Coimbra no século XX - A Zona Industrial da Pedrulha”, Dissertação de Mestrado Integrado em Arquitetura.; 

- “Fábrica Triunfo Rações - Reconversão de um Espaço Industrial”, Dissertação de Mestrado Integrado em Arquitetura; “Fábricas Triunfo”, Restos de Coleção em  https://restosdecoleccao.blogspot.com/2011/02/fabricas-triunfo.html


Nota: Post revisto a atualizado de um publicado inicialmente a 24 maio 2022 em https://www.facebook.com/pacoteca.acucar

Lifresca, a Empresa Impressora do Símbolo “Retângulos”

Os colecionadores de pacotes de açúcar, durante pouco mais de cinco anos (sensivelmente entre 2002 e 2007) habituaram-se a ver, em alguns dos seus objetos de coleção, um pequeno símbolo impresso representando dois retângulos sobrepostos na diagonal. Na imagem 1 apresenta-se, como exemplo, um pacote de açúcar publicitando a Expo de S. Mateus do ano de 2005. Muitos se têm interrogado sobre o seu significado, mas poucas têm sido as respostas divulgadas. Apresento assim, de seguida, uma visão histórica para o significado deste símbolo.

A Higifarma – Sociedade Gestora Participações Sociais, S.A. iniciou a sua atividade em 1980, numa primeira fase, com a aquisição de 70% do capital da Lifresca – Sociedade de Produtos Higiénicos, S.A.. Esta empresa, fundada em 1970, que na altura se dedicava exclusivamente ao fabrico de toalhetes refrescantes para a companhia aérea TAP – Transportes Aéreos Portugueses, iniciou então o alargamento da sua atividade com o fabrico de saquetas para champô, gel de banho e cremes para a indústria cosmética instalada em Portugal. Mostra-se na imagem 2 alguns exemplos de toalhetes produzidos pela Lifresca, antes e após a sua integração no Grupo Higifarma, onde se destaca o símbolo e nome daquela empresa impressos na embalagem (imagem 3).



Em 1995, a Lifresca tornou-se na primeira empresa de impressão e fabrico de embalagens flexíveis a receber a certificação de Qualidade NP EN ISO 9001, atribuída pelo Instituto Português de Qualidade e renovado pela APCER. Terá sido no seguimento desta certificação que a Lifresca deu início à impressão de papel para a produção de embalagens primárias (aquelas que estão em contacto com o produto a embalar), ou seja, as nossas saquetas/pacotes de açúcar. No período entre 2002 e 2007 terão sido produzidas pouco menos de 270 pacotes de açúcar diferentes com o símbolo identificativo da Lifresca e do Grupo Higifarma, como veremos mais à frente. Mais tarde, em 2011, embora já sem qualquer identificação da empresa impressora, foram também ali impressos os 286 pacotes de açúcar e 145 adoçantes distribuídos no PortSugar do Barreiro, encontro organizado pelo CLUPAC – Clube Português de Colecionadores de Pacotes de Açúcar.

A Lifresca, localizada desde 1987 em Casal do Marco, concelho do Seixal, possuindo ainda outra unidade fabril em Ovar, deixou, entretanto, de produzir papel impresso para pacotes de açúcar, dedicando-se atualmente à produção e impressão de embalagens flexíveis para os setores farmacêutico, alimentar, higiene e cosmético, agroquímico, entre outros. O seu processo tecnológico inclui as operações de impressão (rotogravura), laminagem, corte de embalagens flexíveis e produção de sacos e saquetas de diversos tipos. Os principais produtos são os rótulos e sleeves para bebidas (águas e refrigerantes), embalagens primárias para produtos alimentares (cafés, batatas fritas, rebuçados, chocolates, especiarias, gelatinas, fermentos, farinhas, margarinas, dietéticos, etc.), embalagens primárias para a indústria farmacêutica (alumínios impressos para blíster/comprimidos, complexos para saquetas), embalagens para o setor cosmético (saquetas com ou sem enchimento e toalhetes refrescantes) e filmes complexos para embalagem primária de agroquímicos.

O Grupo Higifarma, ao longo dos mais de 40 anos da sua existência, através da criação e aquisição de ainda outras empresas, expandiu a sua atividade a uma oferta diversificada na área da embalagem, atualmente especializada nos mercados de embalagens flexível, offset (caixas, rótulos), etiquetas autoadesivas e tubos.

Assim, em outubro de 1990 o grupo Higifarma passa a ser o principal acionista da Empreza do Bolhão, Lda, empresa fundada em 1923, especializada na impressão em papel e impulsionadora do desenvolvimento das artes gráficas e da publicidade em Portugal. Cinco anos mais tarde dá-se a fusão desta centenária empresa com a Packigráfica, sediada na Maia, especializada na produção de cartão para vinhos e rótulos, constituindo-se a Packigráfica – Empreza do Bolhão, S.A.. Na imagem 4 apresenta-se a evolução gráfica da marca desta empresa ao longo do tempo. Em 2020 esta empresa é declarada insolvente tendo o seu riquíssimo espólio gráfico sido adquirido pelo município da Maia.

A Laboplaste – Plásticos para Laboratórios, Lda, fundada em 1977 e sediada em Palmela, pertence ao Grupo Higifarma desde 1991, e tem como principal atividade a fabricação e impressão de bisnagas em polietileno para a indústria cosmética e farmacêutica.

Em 1995 o mesmo grupo investiu na produção em Espanha, onde estabeleceu a empresa Blister, S.A.. Esta empresa, localizada em Barcelona, produz, para o mercado espanhol do setor farmacêutico, alumínio impresso para embalagens blister e exporta para França e Norte de África.

O Grupo Higifarma detém também, desde 2003, a Helioflex na Tunísia, uma empresa de embalagens flexíveis que abastece os mercados farmacêuticos do norte de África e Médio Oriente.

Também a Etiforma – Sociedade Europeia de Etiquetas, Lda, criada em 1993, pertenceu a este grupo português, cuja especialização era o fabrico de etiquetas e rótulos autoadesivos, incluindo os desdobráveis Fix-a-Form e etiquetas em Braille. Esta empresa, que chegou a deter duas unidades fabris, uma na Quinta do Anjo em Palmela e outra em Espinho, viria, no entanto, a encerrar portas em 2015.

A empresa Litográfica do Sul, S.A., sediada em Vila Real de Santo António, foi criada em 1948, tendo passado para as mãos do Grupo Higifarma nos finais da década de 1990. Esta empresa, que se especializou na impressão em papel, nomeadamente de rótulos, livros, revistas, cartazes e folhetos publicitários, iniciou um processo de insolvência em 2015. Na imagem 5 apresenta-se o logótipo desta empresa antes e após a sua integração no Grupo.

Pertenceu também ao Grupo Higifarma, a Unipromo – Unidoses e Embalagens Promocionais, Lda, especializada em unidoses e mangas retráteis. Esta empresa, entretanto dissolvida em 2003 (coincidindo praticamente com o início do período dos pacotes de açúcar com o símbolo "retângulos"), chegou a ser a responsável pela impressão de saquetas individuais de sal, pimenta e açúcar para a TAP – Air de Portugal como atestam as imagens 6 e 7. Há, por isso, ainda quem refira, erradamente, que o símbolo dos retângulos sobrepostos que surgiram nos pacotes de açúcar em meados da primeira década deste século pertenceria a esta empresa Unipromo. 


Pertenceram ainda ao Grupo a Eurembal – Sociedade Europeia de Embalagens, Lda (encerrada em 2009) que comercializava máquinas e consumíveis para fim-de-linha e embalagens de transporte, a Eurodisplay – Publicidade Gráfica, S.A., especializada no desenho e conceção de produtos na área da Publicidade e Promoção no Local de Vendas, e a Litografia Nacional, S.A., empresa centenária especializada em litografia, offset, tipografia, cartonagem, impressão e construção de artigos de folha-de-flandres e de película celulósica (encerrada em 2016).

Na imagem 8 mostram-se alguns dos logótipos das empresas referidas acima, enquanto pertencentes ao Grupo Higifarma, e que “receberam”, por isso, o caraterístico símbolo da casa mãe portuguesa, os tais dois retângulos sobrepostos na diagonal.

Pelo atrás exposto, ficará claro que o símbolo dos retângulos sobrepostos que surgiu, durante alguns anos, nos nossos pacotes de açúcar, identificava a empresa impressora do papel em que eram produzidos, a empresa Lifresca, que integrava o Grupo Higifarma.

Fontes: Informação dispersa na internet.

Nota: Post revisto a atualizado de um publicado inicialmente a 18 abril 2022 em https://www.facebook.com/pacoteca.acucar

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