Neocel e Danisco, símbolos de uma mesma Fábrica Impressora

A empresa Impressão e Manufactura NEOCEL, Lda foi fundada em 21/11/1952, desenvolvendo a sua atividade no setor de embalagens e papel de cartão, com sede na Av. Marechal Gomes da Costa 6, em Lisboa. 

Como exemplos, serão da década de 60, 70 e 80 os pacotes de açúcar publicitários das imagens 1, 2 e 3 onde a empresa impressora NEOCEL aparece com as referências “NEOCEL-LISBOA”, “N.L.” e “NEOCEL”. Embora não se consiga definir um padrão temporal exato na utilização destas diferentes “marcas”, de uma pequena amostra realizada, podemos dizer que o termo “NEOCEL-LISBOA” aparece, predominantemente, em pacotes de açúcar das décadas de 60 e 70. Já as iniciais “N.L.” surge habitualmente em pacotes de açúcar da década de 80 e o nome “NEOCEL”, menos frequente, será da década de 80, princípios de 90. O aspeto gráfico bem como o espaço disponível para a colocação da marca da empresa impressora poderão também terem sido fatores para a utilização de uma ou outra “marca”.


Num pacote de açúcar já de 1987, comemorativo do Centenário da Câmara de Comércio e Indústria Luso-francesa, surge o nome Neocel com um “N” estilizado que acompanha toda a palavra (imagem 4). 

Entretanto, chegados ao último quartel do século XX, a indústria europeia de embalagens é caraterizada por uma extrema fragmentação, muito em resultado do rápido aumento de consumos iniciado nos anos 1960 que, por sua vez, fez crescer a distribuição em larga escala e consequentemente o número de empresas de embalagens.

No entanto, com o aproximar do levantamento das barreiras ao comércio interno na União Europeia (1992), deu-se uma onda de fusões, aquisições e alianças estratégicas transfronteiriças entre várias empresas, ao qual as empresas de embalagens não foram alheias.

É assim que, em outubro de 1988, é aprovada a fusão entre a área de embalagens da empresa inglesa Metal Box com a francesa Carnaud SA, dando origem à empresa gigante Carnaud Metal Box Packaging. Oficialmente, a CMB Packaging nasce a 1 de abril de 1989, criando assim a maior empresa de embalagens da Europa e a terceira a nível mundial. A recém-criada empresa, com sede em Bruxelas, ficará assim com mais de 145 fábricas em 21 países e empregará cerca de 37.000 pessoas em todo o mundo.

Na sua ascensão com vista à liderança do mercado global, a CMB Packaging procedeu, em 1990, à aquisição de cerca de 50 empresas dos segmentos de embalagens de metal, plástico e multi-material (flexíveis), espalhadas por vários países da Europa, África e Ásia. Muitas destas empresas, no entanto, optaram por manter a sua anterior designação ou ligeiramente alterada por forma a incluir no seu logótipo “CMB Packaging”. Já anteriormente a esta fusão, a francesa Carnaud SA tinha avançado com uma onda de aquisições estratégicas, ascendendo a 28 empresas no período de 1985 a 1989.

Terá sido nesta frente de aquisições que a empresa portuguesa Neocel foi integrada na área das embalagens flexíveis da CMB Packaging. Será deste período, ou provavelmente do período de aquisições por parte da Carnaud SA, o pacote de açúcar comercial da imagem 5, onde, para além do nome NEOCEL estilizado, já anteriormente referido, e do slogan “Venda mais… embalando melhor” em português, francês e inglês, surge também, em destaque, um símbolo de um rolo de papel desenrolado que nos remeterá para a letra “N” de Neocel. Seguramente, deste período inicial da nova fase da Neocel é o pacote de açúcar comercial da imagem 6 onde, para além deste novo símbolo, surge uma nova designação, Neocel – Embalagens Flexíveis, bem como referência às outras empresas que, nesta altura, integram a CMB Flexible Packaging, dispersas por França, Alemanha, Inglaterra, Itália, Espanha e Portugal. 

Como exemplo de um pacote de açúcar publicitário do período em que a Neocel se apresentou com este símbolo, muitas vezes designado entre alguns colecionadores por “cobrinha”, mostro na imagem 7 um exemplar com publicidade ao musical de Filipe La Féria, “Maldita Cocaína”, estreado no Teatro Politeama de Lisboa em 1992.


Entretanto em fevereiro de 1996, dá-se a junção do grupo europeu Carnaud Metalbox com a gigante americana Crown Cork & Seal, criando assim um novo líder mundial no mercado das empresas de embalagens, com cerca de 52.000 empregados e 350 fábricas espalhadas pela América, Europa e Ásia. 

No entanto, o ramo das embalagens flexíveis fica de fora deste negócio, tendo a empresa multinacional dinamarquesa Danisco A/S adquirido, a 24 de novembro de 1995, a empresa CMB Flexible Packaging que detinha, nesta altura, cerca de 12% do mercado em França, 5% em Espanha e 20% em Portugal. Esta aquisição, que nesta altura contempla quatro fábricas em França, uma em Espanha e uma em Portugal, num total de 700 empregados, permite à Danisco Flexible deter um leque variado de produtos, tornando-se no quinto maior produtor de embalagens flexíveis da Europa.

A Neocel, agora rebatizada Danisco Flexible Neocel - Embalagens Lda, tem como principal atividade a produção de embalagens em papel (simples ou revestido), alumínios, complexos (duplex e triplex), películas ou filmes. Estes produtos destinam-se essencialmente às indústrias alimentares, farmacêuticas e de higiene e limpeza, assim como às indústrias de tabaco. Os seus principais clientes são, nesta altura, a Iglo/Fima/Lever, a Iofil, Novadelta, Tabaqueira, Impalsa e Gelgurte.


Assim, a partir desta altura, os pacotes de açúcar produzidos na fábrica da Neocel passam a ostentar o símbolo da “casa mãe” Danisco (imagem 8). Mostro na imagem 9 um exemplo de um pacote de açúcar publicitário com este símbolo, datado de 1997, comemorativo dos 10 anos da gelataria PIAZZA, em Cascais. 

A Neocel acaba por integrar o grupo multinacional Danisco entre 1995 e 2001, já que em julho de 2001 o ramo de embalagens flexíveis da Danisco foi adquirido pela multinacional australiana Amcor, sendo rebatizada para Amcor Flexibles Neocel - Embalagens Lda. Em novembro de 2007 a Neocel abandona as míticas instalações da Av. Marechal Gomes da Costa em Lisboa e muda a sua sede para a Quinta do Anjo, em Palmela.

Atualmente a empresa redirecionou o seu negócio para a área dos plásticos, dedicando-se ao fabrico e embalagens flexíveis para embalamento de alimentos frescos (vegetais e lácteos) e comida pré-preparada.

Ficam assim desvendados mais alguns símbolos e marcas representados em alguns dos nossos pacotes de açúcar, aos quais, por vezes, não damos a devida atenção.

Quem conhece mais alguma informação sobre a história da Neocel e que queira partilhar?

Nota: Post publicado inicialmente a 18 junho 2021 em https://www.facebook.com/pacoteca.acucar

O Café Arcádia na história tertuliana da Lusa Atenas


As tertúlias, formadas por um grupo de pessoas dadas às letras, às artes ou, duma maneira geral à cultura, derivam da Arcádia Lusitana ou Olissiponense do século XVIII, que funcionou como espécie de tertúlia dos tempos modernos e que se chamava então “Academia”, caraterizando-se pela tendência crítica e por uma reação contra a má literatura, que agitou espíritos e fomentavam acesas polémicas.

São célebres as tertúlias do Café Arcádia de Coimbra, tuteladas então por Miguel Torga, mas também as da “Brasileira”, da “Central”, do “Nicola”, da “Sírius”, da “Briosa”, do “Montanha”, do “Internacional”, do “Mandarim”… Todas elas, podemos dizer, tiveram uma influência notável na vida cultural da Lusa Atenas.

É, no entanto, do velho Café Arcádia, entretanto encerrado como muitos outros, que hoje vos convido a conhecer um pouco mais da sua história.

Apresento então uma pagela com o resultado da pesquisa sobre a história e os pacotes de açúcar que conheço deste café. Os dois pacotes de açúcar apresentados diferem na forma de identificação da mesma empresa impressora do papel de embalagem: “coel-LISBOA” e “coel”, existindo, no entanto, variações de tonalidade da cor dourada/esverdeada.

Quem conhece outros pacotes aqui não apresentados que queira partilhar e enriquecer mais esta história do Café Arcádia?

O Café Arcádia que começou por ser Pastelaria Arcada

A sociedade elegante de Coimbra a partir de 23 de dezembro de 1921 passou a marcar os seus “rendez-vous” na nova Pastelaria Arcada na Rua Ferreira Borges. Esse luxuoso e elegante estabelecimento foi uma arrojada iniciativa de um galego, de nome José Garcia, e do conimbricense Caetano Rocha. As suas magnificas salas, decoradas em estilo árabe pelo distinto artista António Eliseu, tinham um tom exuberante para responder à mais seletiva clientela da cidade. A pastelaria, da melhor qualidade, era confecionada em fábrica própria, construída para o efeito na Avenida Navarro. Tanto luxo, tanta ambição mas não durou muito tempo nas mãos de José Garcia e Caetano Rocha e acabam por ceder a Pastelaria a uma sociedade constituída por Froes & Rôxo. 

Entretanto, em 1948, uma nova sociedade constituída, entre outros, por Manuel Maria Gaitas, antigo negociante de peixe, e pelo “senhor Abel” que tinha sido empregado de mesa do Café Nicola, compra o trespasse e, abre, agora, com o nome de Arcádia. Aparece como funcionário José Maria Cerveira, genro de Manuel Maria Gaitas, que acaba por comprar parte da sociedade, e em novembro de 1950, José Maria Cerveira passou a ser o dono do Café Arcádia e a partir daí conhecido como "Zé Maria do Arcádia". 

Este café foi o centro de tertúlia desportiva dos doutores (elementos da comunidade académica) de Coimbra, adeptos da Académica, por oposição ao Café Santa Cruz, ponto de encontro dos futricas (elementos sem estudos universitários), frequentado pelos unionistas (adeptos do União de Coimbra).

Do amplo Café Arcádia, o lado esquerdo de quem entra era reservado aos teóricos da Académica que passaram a ter ai sua “residência”. Nas linhas escritas pelas memórias dos tertulianos do Arcádia, estes teóricos da bola, em domingo de jogo e de orelhas coladas ao rádio, sofriam ao som da voz de Manuel Gaspar, comentador dos jogos da Briosa na Emissora Regional. E como teórico da bola, “a paixão pela Académica era alimentada nas tardes perdidas no café Arcádia”, levando o jornalista a dizer o que pensava e o que não pensava.

Era também o local preferido dos treinadores da Académica Cândido de Oliveira, Pedroto, Tellechea, etc… Faziam-se as equipas, discutiam-se opções técnicas, choravam-se derrotas e festejavam-se vitórias. 

Por sua vez, o lado direito  do café estava reservado aos forasteiros e era onde se sentavam as senhoras provenientes de uma elite burguesa que à volta das mesas a abarrotar de torradas e galões se ocupavam das bisbilhotices sociais. A discussão política era deixada para a vizinha A Brasileira.

As tertúlias, formadas por um grupo de pessoas dadas às letras, às artes ou, duma maneira geral à cultura, derivam da Arcádia Lusitana ou Olissiponense do século XVIII, que funcionou como espécie de tertúlia dos tempos modernos e que se chamava então “Academia”, caraterizando-se pela tendência crítica e por uma reação contra a má literatura, que agitou espíritos e fomentavam acesas polémicas.

Terá sido em meados da década de 1960 que o Dr. Adolfo Correia da Rocha, até então cliente diário do café A Brasileira, e que mantinha consultório ali bem perto num 1º andar do Largo da Portagem, começou a frequentar o Arcádia. Para esta mudança de poiso muito terá contribuído a recente amizade estabelecida com o então dono e também proprietário do edifício, José Maria Cerveira, fruto das grandes caçadas que realizavam com outros companheiros. Foi assim neste espaço de tertúlias que, sob o pseudónimo literário de Miguel Torga, este poeta e escritor terá concebido algumas das suas obras. 

Para além de Miguel Torga, o Café Arcádia foi ainda, durante décadas, lugar de encontro de outras personalidades como sejam os médicos Fernando Vale, Mário Braga Temido, Guilherme Oliveira, o professor Afonso Queiró e dois futuros ministros da Educação: Veiga Simão (o último do Estado Novo) e Eduardo Correia (o primeiro pós-25 de Abril), entre outros.

O Café Arcádia, que no seu período auge chegou a ter 19 empregados, foi portanto também um lugar importantíssimo na cidade Lusa Atenas durante cerca de meio-século já que, a 4 de Maio de 2000, fechou as portas, dando lugar a um pronto-a-vestir. Não terá assim resistido à crescente perda de clientes, fruto também da grande descaraterização, nos últimos anos, da Baixa Coimbrã e que já tinha provocado o encerramento, 5 anos antes, de outro mítico café, A Brasileira.

Como curiosidade e bem a propósito dos pacotes de açúcar a seguir representados, conta José Maria Cerveira que, nos primeiros anos, tinha uma casa de Lisboa, a Luso-Brasileira, que lhe concedia um crédito de 50 contos para a aquisição dos lotes de café daquela marca. Mas apercebendo-se que o negócio não ia bem e que era o torrador de café quem ganhava mais dinheiro naquele processo, uma vez que era ele quem “importava o café, torrava-o, fazia as misturas, nos lotes, e depois ia distribuir”. Foi então por influência de um amigo que trabalhava na “A Caféeira”, Henrique Ildefonso, sob o pretexto de lhe passar a comprar os lotes de café dessa marca, que aprendeu o “segredo do café”. Passou então a fazer as suas próprias misturas das várias qualidades e origens de café, tendo montado um torrador a lenha em Barrô, aldeia do concelho de Águeda de onde era natural o seu pai. Foi nesta altura, ainda antes do 25 de Abril de 1974, que conseguiu assim ganhar uns “tostõezitos”. Segundo o próprio, era o único torrador de café em Coimbra, tendo até equacionado em vender a outros cafés da cidade. No entanto, após algumas visitas, não lhe tendo agradado as condições das montras onde estes guardavam o produto, desistiu rapidamente dessa ideia. Entretanto, dá-se a revolução dos cravos e, com a perda das ex-colónias, o negócio da torra do café vai por água abaixo, com o quilo de café a passar de 20 escudos para os 300 escudos. Teve assim de abandonar a torrefação, começando novamente a comprar o café em lotes. Sem certezas e sem outra informação, podemos especular que José Maria Cerveira possa ter passado a comprar os lotes de café da “A Caféeira” ao seu amigo, podendo ser desse período os pacotes de açúcar desta marca aqui apresentados.

Partilho a pagela em formato pdf, que poderão descarregar aqui.


Fontes: 
- “A Brasileira” de Coimbra, História arquitetónica de um café, Lília Andreia Félix Coutinho, Coimbra, Julho 2011
- “Café Arcádia”, http://astiascamelas.blogspot.com/2018/03/cafe-arcadia.html consultado em 15/09/2020
- Coisas sobre Coimbra, O pica e a Briosa, António  Curado, Livraria Almedina

Nota: Post publicado inicialmente a 18 maio 2021 em https://www.facebook.com/pacoteca.acucar


Símbolo “Legenda” desvendado

Figura 1

O que para muitos poderá ser um pequeno detalhe num pacote de açúcar, para outros é mais um motivo de pesquisa, conhecimento e divulgação deste objeto que colecionamos.

Vem isto a propósito de um enigma (para mim) sobre o nome da empresa impressora do papel de meia dúzia de pacotes de açúcar “Comerciais” dos Cafés Delta “A Verdade do Café”, que circularam nos inícios dos anos 90, e que possuíam um símbolo muito pouco percetível, mas cujo caractere inicial se assemelhava à letra E ou F (exemplo na figura 1). Entre os colecionadores mais antigos, este símbolo é comumente designado por “Legenda”, nome batizado por um amante do colecionismo e grande estudioso destes nossos objetos de coleção, José Manuel Pereira, num dos Álbuns temáticos que produziu sobre aquela marca de café.

Muito recentemente, ao olhar com mais atenção para um pacote de açúcar da minha coleção, comemorativo dos 30 anos da DELTA (ano 1991 ou seguintes) e no qual se associava um outro nome, EMBAVIL, o aspeto gráfico da letra E deste nome fez-me lembrar o tal símbolo “Legenda” (figura 2). Realizado um pequeno exercício gráfico de isolar a parte amarela do nome EMBAVIL, chega-se à conclusão que se trata do mesmo símbolo que aparece no pacote de açúcar da figura 1.

Figura 2

Existe ainda um outro pacote de açúcar, este do ano de 2001, publicitando o XVIII Encontro Nacional da TECNICELPA – Associação Portuguesa dos Técnicos das Indústrias de Celulose e Papel, onde consta o nome da empresa impressora do papel bem como um símbolo que já identificávamos claramente tratar-se do impressor EMBAVIL (figura 3).

Figura 3

empresa Embavil – Embalagens, Lda foi fundada em 1992 e desenvolveu a sua atividade no setor da impressão e fabricação de embalagens de papel e cartão. Esta empresa, que teve a sua sede localizada na freguesia de Samora Correia, concelho de Benavente, distrito de Santarém, foi declarada insolvente no ano de 2006. 

Em conclusão, é minha opinião de que o símbolo habitualmente designado “Legenda” se referirá à empresa impressora Embavil – Embalagens, Lda, à semelhança de outras designações gráficas que já sabíamos pertencer a este impressor (figura 4).

Figura 4

Nota 1: Realço aqui que expus previamente, por e-mail, esta minha opinião ao “pai” da designação “Legenda”, José Manuel Pereira, que, com os seus bonitos e lúcidos 94 anos de idade, concordou com esta minha “teoria”, tendo acrescentado que, à devida época em que elaborou o Álbum, por desconhecimento e falta de acesso a “esta máquina infernal mas maravilhosa chamada computador”, acabou por atribuir-lhe esse termo “Legenda”. 

Nota 2: Infelizmente, José Manuel Pereira viria a falecer um ano mais tarde, deixando-nos, no entanto, um legado ímpar na sistematização do conhecimento que hoje possuímos sobre o nosso colecionismo.


Nota: Post publicado inicialmente a 7 maio 2021 em https://www.facebook.com/pacoteca.acucar/

Empresas de Coimbra publicitam em pacotes de açúcar


Na segunda metade dos anos 80, muito em resultado da adesão de Portugal à União Europeia em 1986, do consequente aumento dos salários reais e diminuição do desemprego, deu-se um crescimento generalizado do consumo em Portugal. A redução das taxas de juro estimula a febre do consumo, em especial nas grandes cidades, tornando mais atraente gastar do que poupar. Os eletrodomésticos, os equipamentos eletrónicos, o mobiliário e os automóveis que os portugueses adquirem, ou a procura de casas mais espaçosas e confortáveis ou ainda o investimento para passar férias, têm agora um peso muito maior no orçamento familiar do que as despesas com a alimentação.

Porque estamos a falar de um período anterior ao início da era digital, as pequenas e médias empresas recorriam, na maioria das vezes a um nível regional, à publicidade em jornais, revistas e panfletos como forma de divulgar e promover os seus negócios, apelando assim ao consumo dos portugueses. Neste período, também conhecido como “os anos de ouro da publicidade”, marcado pelo aumento dos investimentos publicitários, procurava-se uma componente mais lúdica e abordagens mais inovadoras, pois era preciso descobrir novas formas de prender um público cada vez mais exigente, esclarecido e infiel.

É neste contexto socio-económico e também publicitário que terá sido idealizada e materializada uma série de pacotes de açúcar com um modelo não muito usual na altura (e mesmo nos dias de hoje), pois junta num mesmo propósito publicitário, provavelmente por razões de controlo do seu custo, um conjunto de empresas distintas. Trata-se de uma série (e suas variantes) que publicita 8 empresas dos setores do comércio e indústria do concelho de Coimbra, distribuídas pelos ramos da construção civil, metalúrgica, mobiliário, eletrodomésticos e automóvel. Estas empresas designavam-se, na altura: 

Fucoli – Fundição Conimbricense, Lda

Bilhares Carrinho 

Salvador Caetano (Coimbra), SA

Fapricela – Fábrica de Pregos do Centro, Lda

Móveis Evaristo

Torricentro – Sociedade de Construções do Centro, SA

Majorpal – Comércio de Eletrodomésticos, Lda

Concessionários MotoGomes

O empacotamento destes pacotes de açúcar foi realizado na extinta embaladora Heitor da Costa, anteriormente designada “Fábrica de Empacotamento Automático de Coimbra de Heitor da Costa”, localizada na Adémia (Coimbra), através da sua marca SOAÇUCAR com o típico símbolo da torre da Universidade de Coimbra.

As 6 séries distintas que identifiquei até ao momento, batizadas “Empresas de Coimbra”, e que designei de “Variante A, B, C, D, E e G”, são constituídas por 4 pacotes de açúcar diferentes com uma unidade gráfica semelhante e que apresentam em cada uma das faces (frente e verso) uma das 8 empresas publicitadas. Entre as “Variantes” identificadas, que não distinguem possíveis evoluções no processo de impressão ou variações de tonalidades de cor eventualmente existentes ao longo dos anos da sua produção, verificam-se alterações de uma ou mais das seguintes caraterísticas: dimensão da letra; alteração do número de telefone com mais um dígito; supressão ou acrescento de texto; disposição gráfica; alteração de cor. Acrescentei ainda uma “Variante F” com um conjunto de pacotes de açúcar que conheço que apresentam as frentes e versos trocados relativamente às anteriores variantes (inclui a frente e o verso de um outro pacote de açúcar com publicidade à “Leasinvest”, alheio a esta “série”).

Apresento aqui imagens das pagelas com as várias variantes e uma pequena resenha histórica das 8 empresas publicitadas. 

Partilho igualmente a pagela em formato pdf, que poderão descarregar aqui.

Quem tem outros pacotes de açúcar aqui não representados e que queira divulgar?


Nota: Post publicado inicialmente a 27 abril 2021 em https://www.facebook.com/pacoteca.acucar/

À Descoberta do Símbolo “T”

Figura 1

O estudo e a pesquisa sobre as várias informações e motivações que os pacotes de açúcar nos transmitem sempre me fascinaram. Não apenas a mensagem ou tema principal que levaram à sua elaboração, mas também naqueles pequenos pormenores, por vezes impercetíveis ao comum dos consumidores dos pacotes de açúcar, mas que dizem muito aos colecionadores que se interessam verdadeiramente por este seu objeto de coleção.

Um desses aspetos diferenciadores, muitas vezes presente nos pacotes de açúcar, é a presença de um nome, símbolo ou sigla que identifica a empresa que efetuou a impressão do material que constitui a embalagem de açúcar (habitualmente em papel).

Um destes símbolos, que sempre me intrigou por desconhecer até agora o seu significado, é aquele que muitos colecionadores apelidam de “T”, pela sua parecença com esta letra, e que apareceu em alguns pacotes da década de 80/90 em Portugal e também em Espanha (um exemplo na 1ª imagem).

Após alguma investigação, e com a ajuda de uma preciosa dica nas redes sociais, creio que posso afirmar que o símbolo em causa se referirá ao Grupo TOBEPAL que, em 1988, era constituído pelas empresas Tobepal S.A, Tobefil S.A. e Toybe S.A..

No sítio Patentes y Marcas de Espanha estão identificados os pedidos de registo das marcas destas empresas, que conferem com o símbolo que procurava (2ª imagem).

Figura 2

A TOBEPAL, S.A., era a empresa dominante do grupo e responsável, desde 1922, pela produção de materiais flexíveis para recipientes e embalagens. Esta entidade caracterizava-se pela impressão em rotogravura, além de oferecer uma vasta gama de materiais multicamadas com diferentes processos de fabricação (laminação, extrusão, lacagem, metalização e impressão).

A TOBEFIL, S.A., fundada em 1977, dedicava-se à fabricação de uma ampla variedade de extrudados de polietileno, tais como: filme retrátil, filme para complexos, polietileno para manipuladores, filme agrícola acolchoado, etc.

A TOYBE, S.A., empresa que se especializou, desde 1979, no fabrico e impressão flexográfica de sacos e embalagens flexíveis.

Em 2002 a empresa Amcor Flexibles Europa, pertencente ao Grupo AMCOR, adquire o Grupo Tobepal com fábricas em Burgos e Logroño. Esta aquisição tem efeitos apenas nas empresas Tobepal e Tobefil (3ª imagem). Os então acionistas da Tobepal, constituído por um grupo familiar, criam uma holding denominada Torrealba&Bezares, ficando com 100% das ações da empresa Toybe.

Figura 3

A empresa Toybe continua a laborar com as suas instalações em Logroño, tendo-se especializado no fabrico e impressão de embalagens e sacos de papel. Atualmente a sua marca registada é outro T em tons azuis (4ª imagem).

Figura 4

Mais tarde, no ano de 2010, o Grupo AMCOR vende a TOBEPAL ao Grupo austríaco Constantia Flexibles. Atualmente a empresa Constantia Tobepal S.L. mantém as suas fábricas em Burgos e Logroño mas já não se dedica à impressão de material de embalagem para pacotes de açúcar.

Em conclusão, é minha opinião de que o símbolo que procurava e que consta de alguns pacotes de açúcar da década de 80/90, se refere à empresa que imprimiu o material de embalagem (comumente referido como “Impressor”), tratando-se, neste caso, do grupo espanhol TOBEPAL.

Mais recentemente descobri um pacote de açúcar com este mesmo símbolo mas que possui por baixo também o nome da empresa (5ª imagem). Embora o nome possa estar algo impercetível, pelo atrás exposto, conclui-se ser a designação “TOBEPAL” o que desfaz, a meu ver, qualquer dúvida que ainda persistisse.

Figura 5

Espero que esta informação seja útil aos colecionadores de pacotes de açúcar e, caso tenham outras informações ou opiniões, agradeço a sua divulgação.


Nota: Post publicado inicialmente a 14 dezembro 2020 em https://www.facebook.com/pacoteca.acucar/


A Pacoteca Chegou ao Blogger


Biografia

Carlos Teixeira, aka "pacoteca", colecionador de pacotes de açúcar desde os inícios dos anos 80 do século XX e pioneiro na divulgação deste colecionismo (periglicofilia) na internet, com a criação da sua página web – PACOTECA – em 1998.

Membro fundador do CLUPAC – Clube Português de Colecionadores de Pacotes de Açúcar, criado oficialmente em 2002, tendo pertencido aos diversos Órgãos Sociais do Clube desde a sua constituição até ao ano de 2012.

Integrou um grupo de trabalho, em 2006/2007, constituído por alguns colecionadores de referência, com o objetivo de definição de um glossário normativo para o colecionismo de pacotes de açúcar bem como a sistematização de um método de classificação / catalogação de séries de pacotes de açúcar.

Desde 2020, assumindo o compromisso de fomentar o interesse pelo estudo temático e divulgação destes objetos de coleção, tem publicado no Facebook artigos e pagelas de pacotes de açúcar, resultantes de um trabalho de investigação histórica sobre as empresas e mensagens neles publicitadas.

Alargar horizontes

Com o intuito de chegar a um público mais vasto, fora das redes sociais e de grupos privados de colecionadores, a pacoteca lança-se aqui na divulgação aberta dos conteúdos já publicados (e revistos, sempre que se justifique), em simultâneo com novos temas.

Com a criação de etiquetas temáticas, espera-se que possam ajudar os colecionadores na pesquisa e revisita de determinados assuntos do seu interesse.

Participação

Os comentários, informações e correções às partilhas aqui divulgadas serão desejáveis e muito bem-vindos por forma a que possamos enriquecer o conhecimento sobre estes nossos objetos que colecionamos.

"Colecionar é cultura! É manter a história viva!"

"Partilha o teu conhecimento e vem fazer parte da história da periglicofilia!"


* aka - acrónimo para "Also Known As" ("também conhecido como").

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