Séries (Des)conhecidas: "Café, Café, DELTA é que é – Departamentos Comerciais II"

Dou hoje continuidade à divulgação de mais uma série (assim a considero) de pacotes de açúcar menos conhecida, também esta publicitando os Departamentos Comerciais da Delta Cafés (ver anterior post).

Esta série, constituída por 4 saquetas, será também dos princípios da constituição da empresa Novadelta – Comércio e Indústria de Cafés, Lda, criada em 1985, como empresa responsável pela torrefação, empacotamento e comercialização daquela marca de cafés. Nela figuram as moradas dos Departamentos Comerciais de Matosinhos, Coimbra, Setúbal e Faro, para além da Sede de Lisboa e da Fábrica e Escritórios centrais em Campo Maior.

Todos estes pacotes de açúcar possuem um grafismo idêntico, bem como a referência à empresa onde foi impresso o papel, SAGEL - Sociedade Artes Gráficas e Embalagem, Lda.

O primeiro logótipo da Delta Cafés era a duas cores, vermelho e amarelo, sendo a palavra Delta o principal destaque do logótipo. O triângulo surge do nome da marca, uma vez que “Delta” é o nome da quarta letra do alfabeto grego e representa-se por um triângulo. Cada uma das arestas do triângulo representaria uma força: empresa, colaboradores, clientes.

“Café, Café, Delta é que é” foi um dos primeiros slogans da marca.

Partilho a pagela em formato pdf, que poderão descarregar aqui.


Séries (Des)conhecidas: “Café, Café, DELTA é que é – Departamentos Comerciais I”

Hoje, inicio a divulgação de uma série de pacotes de açúcar provavelmente menos conhecida de uma parte dos colecionadores mais recentes mas também pouco assumida, ou entendida como tal, pelos mais antigos. 

Em 2007, o CLUPAC – Clube Português de Colecionadores de Pacotes de Açúcar promoveu a constituição de um grupo de trabalho, no qual tive a honra de participar, com o objetivo de elaborar um conjunto de conceitos em forma de Glossário sobre alguns dos aspetos mais básicos que norteassem este nosso colecionismo. Entre eles figurava o conceito de “Série de Pacotes de Açúcar”: “Duas ou mais Embalagens de Açúcar, produzidas intencionalmente para formar um conjunto, com unidade temática ou gráfica. (…)”.

É, pois, com esta premissa que entendo que os 6 pacotes de açúcar que apresento nas pagelas seguintes e que publicitam os Cafés Delta e os seus Departamentos Comerciais, constituirão uma série de pacotes de açúcar. Tratam-se de pacotes de açúcar dos princípios da constituição da empresa Novadelta – Comércio e Indústria de Cafés, Lda, criada em 1985, como empresa responsável pela torrefação, empacotamento e comercialização daquela marca de cafés.

A Delta Cafés, empresa criada em 1961 por Manuel Rui Azinhais Nabeiro, adotou desde cedo uma estratégia de regionalização, o que levou a que a empresa assentasse a sua cobertura e acompanhamento aos seus clientes em departamentos comerciais distribuídos, numa fase inicial, por Matosinhos, Viseu, Coimbra, Setúbal, Évora, Faro, Lisboa (sede) e Campo Maior (fábrica e escritórios centrais).

A unidade gráfica destes pacotes de açúcar está patente no marcante logótipo da Delta Cafés, na parte da frente, bem como na disposição gráfica nos respetivos versos, nos quais são apresentadas as diferentes moradas dos 6 Departamentos Comerciais, então existentes, bem como da Sede e da Fábrica e Escritórios. Todos estes pacotes de açúcar possuem inscritos as iniciais “N.L.”, indicadoras da empresa NEOCEL onde foi impresso o papel.

O primeiro logótipo da Delta Cafés era a duas cores, vermelho e amarelo, sendo a palavra Delta o principal destaque do logótipo. O triângulo surge do nome da marca, uma vez que “Delta” é o nome da quarta letra do alfabeto grego e representa-se por um triângulo. Cada uma das arestas do triângulo representaria uma força: empresa, colaboradores, clientes.

“Café, Café, Delta é que é” foi um dos primeiros slogans da marca.

Haverá mais alguém com esta mesma visão?

Partilho a pagela em formato pdf, que poderão descarregar aqui.

Nota: Post publicado inicialmente a 31 janeiro 2022 em https://www.facebook.com/pacoteca.acucar


SINAGA, o fim de uma história centenária


Na segunda metade do século XIX o arquipélago dos Açores deparou-se com um forte revés na cultura da laranja, cujo começo remonta aos finais do século XVI. As razões para o declínio desta cultura, conhecida como a “crise da laranja”, tiveram origem em doenças e infestações que assolaram os vários laranjais espalhados um pouco por todas as ilhas, com predominância em São Miguel, sem descurar os problemas no seu transporte por terra e mar até aos mercados europeus para onde era então exportada. Aliado a isto foi a crise económica da grande depressão económica mundial que ocorreu entre 1873 e 1896 e que se fez sentir na economia com a diminuição da importação de laranja a partir do estrangeiro.

Surge então em São Miguel, por volta de 1880, como economia alternativa, a cultura da batata doce muito orientada pelo mercado do continente, ávido de álcool industrial para o fabrico do vinho. O florescimento deste mercado levou à construção de várias fábricas de álcool, sendo a primeira a surgir a Fábrica da Lagoa, em 1882, e depois a Fábrica de Santa Clara, em 1884, ambas na ilha de São Miguel. 

Mais tarde, como resposta às políticas restritivas do governo de Lisboa que culminaram com a publicação de um Decreto de 1901, visando defender os interesses da indústria continental ao limitar a produção de álcool nos Açores, foi introduzida a cultura da beterraba. Na verdade, as primeiras experiências com a cultura da beterraba já haviam sido feitas no último decénio do século XIX, pelas mãos de Henrique Bensaúde, pelo Eng. José Cordeiro e pela antiga Estação Agrária.

Em 1902 forma-se então a União das Fábricas Açorianas do Álcool (UFAA) com vista à instalação de uma fábrica de laboração de beterraba açucareira em São Miguel, para a produção de açúcar. Foi assim construída, em 1906, tendo por base um projeto alemão e seu diretor o Eng. Pax, a Fábrica de Açúcar de Santa Clara, exatamente no mesmo espaço que era ocupado pela Fábrica de Destilação de Álcool.

O álcool passaria então a ser extraído, também, de melaço, um derivado da beterraba sacarina, ultrapassando-se, desta forma, a crise do álcool da batata doce que, mesmo assim, continuou a ser produzido na Fábrica da Lagoa, até 1969.

Constituída em 28 de abril de 1968, enquanto sociedade anónima de responsabilidade limitada, a SINAGA – Sociedade de Indústrias Agrícolas Açorianas, S.A.R.L. tinha por objeto a “exploração das indústrias agrícolas, bem como as indústrias subsidiárias daquelas e ainda a exploração de quaisquer outras atividades comerciais ou industriais não proibidas por lei”.

É assim que, em 1969, a SINAGA adquire à UFAA as duas unidades industriais de que aquela empresa era proprietária – a de Santa Clara (produção de açúcar) e a da Lagoa (produção de álcool).

Entretanto, na década de 70, a SINAGA iniciou uma profunda remodelação no processo produtivo da Fábrica de Santa Clara, processo esse que foi acompanhado, na íntegra, pela British Sugar Corporation (ao tempo, a maior produtora de açúcar de beterraba do mundo).

Ciente do património industrial secular da empresa e do seu contributo para a história económica e social da produção de açúcar nos Açores, tendo em vista a criação de um museu por ocasião das comemorações dos cem anos da fábrica do açúcar, a Administração da Sinaga deu início à seleção e catalogação de peças e documentos mais emblemáticos da história da unidade fabril. O Museu da Sinaga seria inaugurado ao público no dia 6 de novembro de 2006 na antiga sala de ensacamento da unidade fabril.

Única no país até julho de 1997, altura em que começou a laborar a fábrica da DAI – Sociedade de Desenvolvimento Agro-Industrial, S.A., em Coruche (parou, no entanto, de produzir em abril de 2015), a Fábrica de Açúcar da Sinaga não conseguiu, contudo, adaptar-se às crescentes exigências do mercado e necessária modernização do seu equipamento. Como resultado do período de crise económica pós 2008, a Região Autónoma dos Açores, por forma a assegurar a atividade de uma indústria considerada estratégica para o arquipélago, procede, em 2010, à aquisição da maioria do capital da açucareira Sinaga, passando a deter 100% do seu capital a partir de 2017. 

Na vertente industrial, as principais atividades da empresa consistiam na produção de açúcar branco obtido através da transformação de beterraba sacarina, bem como da refinação de açúcar bruto (rama de beterraba sacarina) para posterior embalagem e comercialização.

Face à instabilidade provocada pelo fim das quotas de produção, que originou uma descida acentuada dos preços do setor do açúcar, e a falta de dimensão que a cultura da beterraba sacarina tinha, nesta altura, no tecido agrícola de São Miguel, a vertente industrial da Sinaga assumiu uma expressão meramente residual, acabando por ser suspensa a sua laboração em finais de 2017. 

A empresa passa então a cingir-se, essencialmente, à comercialização de açúcar branco importado, embalado nas suas instalações, única atividade que nesta altura foi considerada rentável. Aliás os investimentos realizados entre 2010 e 2016 incidiram, sobretudo, nos equipamentos destinados à embalagem de saquetas de açúcar. Neste segmento, a pequena dimensão da empresa, foi considerada um fator positivo, possibilitando operar com clientes regionais de menor dimensão. É nesta altura que se regista um aumento das vendas nas saquetas de açúcar, com grande relevância, para o açúcar com canela, produto único no mercado nacional lançado em 2016.

Os últimos anos, porém, têm revelado dificuldades de adaptação e reconversão daquele setor, igualmente afetado por uma série de fatores económicos externos e internos, determinando que, à data de 31 de dezembro de 2019, se encontrasse com perda de metade do capital social, fundamentando a sua dissolução nos termos legais. É assim que, no passado dia 19 de outubro de 2021, é determinada por Decreto Lei a extinção da Sinaga, devendo a sua formalização ser efetivada até ao final do corrente ano.

Entretanto, por forma a preservar muito do seu vasto espólio, centenas de objetos, desde máquinas de produção a balanças, a fotografias, passando por pacotes e sacos para açúcar ou bombas a vapor de alimentação de água, foram já acolhidos no Museu Carlos Machado, em Ponta Delgada. Seguir-se-á a sua valorização, através do seu estudo por especialistas, com vista à preservação da memória histórica desta unidade fabril da ex-açucareira Sinaga.

Notícia da RTP Açores sobre a transferência do acervo da Sinaga: <https://www.facebook.com/rtpacores/videos/455272895854897>

Em jeito de “despedida”, deixo aqui imagens de alguns dos pacotes de açúcar mais antigos que conheço, embalados pela Fábrica de Santa Clara / Sinaga, também eles fazendo parte da longa história desta açucareira que agora finda.

Partilho as pagelas em formato pdf, que poderão descarregar aqui: pagela 1, pagela 2, pagela 3, pagela 4, pagela 5, pagela 6.

Nota: Post publicado inicialmente a 12 novembro 2021 em https://www.facebook.com/pacoteca.acucar














Histórias do Hotel Astória de Coimbra

O estudo do objeto colecionável, para além da aquisição de conhecimentos sobre um determinado tema, permite-nos, por vezes, viajar no tempo, imaginando, noutras décadas passadas, os aspetos que levaram à criação desse objeto bem como o trajeto que terá percorrido até chegar às nossas mãos. E, por que não dizê-lo, as histórias que esses objetos nos possam transmitir e suscitar, perdurando no nosso imaginário…

Foi o que me aconteceu ao aprofundar os conhecimentos sobre alguns pacotes de açúcar da cadeia de Hotéis Alexandre de Almeida, debruçando-me hoje sobre o Hotel Astória de Coimbra. Fiquei assim a saber que o edifício original foi mandado construir pela Companhia de Seguros “A Nacional” entre 1915 e 1919, tendo, mais tarde, sido arrendado a Alexandre de Almeida que ficou responsável pela conclusão do seu interior e adaptação à indústria hoteleira. O Hotel Astória abriu portas em 1926, tendo a Companhia de Seguros “A Nacional” ficado com três divisões no 1º andar para funcionamento da sua agência. Nessa altura foi considerado como a catedral dos hotéis nacionais e internacionais, pela oferta de comodidades invulgares para a época, como a primeira central telefónica a ser instalada e a funcionar num hotel em Portugal, com telefones em todos os quartos, o elevador – um dos primeiros da cidade, o aquecimento central ou o requintado e luxuoso mobiliário.

O monumental e sumptuoso edifício, projetado pelo arquiteto Adães Bermudes, conjuga-se na perfeição com o edifício da agência de Coimbra do Banco de Portugal, edificado uns anos antes pelo mesmo arquiteto, ali ao lado no atual Largo da Portagem. Destaca-se também pela sua situação em gaveto, com duas frentes articuladas em ângulo agudo, tipologia tornada necessária pela ligação entre a nova e larga Avenida Emídio Navarro com a Rua da Sota, do lado da Baixa medieval. Os alçados são unidos numa esquina semicircular, que visualmente funciona como torreão, coroado por zimbório circular.

Em 1944 a companhia de seguros “A Nacional” adquiriu o edifício contíguo ao Hotel, onde estava instalado o primeiro Hotel Avenida, e estabeleceu ligação entre os espaços, ficando o Hotel Astória com a estrutura atual. Esta companhia de seguros tinha por emblema o “Génio da Independência”, representado por um jovem alado a quebrar as correias que o manietavam e a transportar a bandeira. Durante quase um século, uma réplica em bronze do “Génio da Independência” ornamentou a fachada do Hotel Astória, mas aquando de uma das obras de conservação, provavelmente das de 2002, levou sumiço, ou porque incomodava os donos do imóvel, ou porque a sua venda tornava passível minorar os custos da intervenção.

As suas zonas públicas, com realce para o lobby com os seus mármores, seus ferros forjados e suas janelas modernistas, para a requintada sala de estar “Anos 20”, para o seu majestoso restaurante com seus belíssimos painéis de madeira, para o elevador original, também de madeira e ainda em funcionamento, constituem uma viagem a uma época passada. Nos quartos, o mobiliário do início do hotel, os tetos altos, os radiadores decorativos e as antigas e profundas banheiras, constituem também excelentes exemplares da época.

Por este Hotel passaram as mais ilustres personalidades da nossa história, com destaque para o célebre discurso proferido de uma das suas varandas por Humberto Delgado, o “General Sem Medo”, a 31 de maio de 1958, aquando da sua corrida à Presidência da República, enfrentando a figura de António Oliveira Salazar. Ou ainda em 1990, durante a Presidência Aberta realizada por Mário Soares, em que este elegeu para tanto o Hotel Astória como seu palco e onde pernoitou, durante 10 dias, a sua comitiva, chegando a ser apelidado pelo povo como o “Palácio de Belém da Portagem”. Foi ainda cenário de alguns filmes de época, nomeadamente, em 2019, a adaptação do romance o “Ano da Morte de Ricardo Reis”, de José Saramago, realizado por João Botelho.

Ao longo dos anos a entrada do Hotel Astória tem também servido de palco para algumas das praxes académicas, nomeadamente a pergunta dos doutores aos seus caloiros, sempre que passam à sua porta: “Qual o número da porta do Hotel Astória?”. E o que os caloiros desprevenidos sofrem ao procurarem, a maior parte das vezes em vão, o número “21” que, curiosamente, se encontra inscrito na placa do nome do Hotel, “dissimulado” no “A” de “Astória”.

Em 2011 o Hotel Astória foi classificado como Monumento de Interesse Público, ficando ainda integrado em Zona Especial de Proteção.

O empresário António de Almeida, apesar de ter completado apenas o quarto ano de escolaridade, foi, contudo, um grande empreendedor e considerado o primeiro grande industrial hoteleiro português. Em 1916, com 31 anos, associa-se na exploração do Palace Hotel do Bussaco (em 1920 passa a deter em exclusivo a sua concessão), seguindo-se a aquisição de três hotéis em Lisboa – Hotel Metrópole (1917), Hotel Francfort (1919) e Hotel Europa (1920) – e ainda o Palace Hotel da Curia (1922).

A cadeia de equipamentos hoteleiros “Hotéis Alexandre de Almeida, Lda” consolidou-se com a fundação do Hotel Astória (1926), com o Hotel Miradouro no Bussaco (1940-45) e com o Hotel Praia-Mar (1968) em Carcavelos. 

A empresa de Alexandre de Almeida foi ainda responsável, em 1947, pela montagem e exploração do restaurante e do bar do Aeroporto de Lisboa.

Em 1958, foi por sua iniciativa criada a primeira escola de ensino hoteleiro em Portugal, a Escola Hoteleira Portuguesa, denominada durante alguns anos por Escola Hoteleira Alexandre de Almeida e atualmente por Escola de Hotelaria e Turismo de Lisboa.

Para Alexandre de Almeida, um hotel deveria ter a sua própria adega, à semelhança do que acontecia com os exuberantes locais de pernoita na Riviera francesa e italiana. Como ponto de partida, utilizou as vinhas da sua própria família, situada nos sopés da Serra do Buçaco, para produzir um vinho especial, engarrafado, numa altura em que esta era ainda uma atividade rara.

Viajou por toda a Europa e América do Norte, no estudo da sua profissão, e foi representante da Indústria Hoteleira nos Congressos Internacionais, do Mónaco, Nova Iorque, Londres, Roma, Paris, Bruxelas e Barcelona. Foi Vice-Presidente da Alliance Internationalle de l´Hôtellerie, Diretor da Sociedade de Propaganda de Portugal e Procurador à Câmara Corporativa, entre outras.

Terá sido com uma visão do que de melhor se fazia lá fora no setor hoteleiro que Alexandre de Almeida introduziu nos seus hotéis um elemento distintivo e ainda muito pouco usual, nessa época, por terras lusas. Falo dos pacotes de açúcar com publicidade aos hotéis da cadeia Alexandre de Almeida em formato “envelope”, seguramente alguns dos primeiros a circular em Portugal, provavelmente das décadas de 1950/60 (imagens da primeira folha da pagela que mostro de seguida).

Depois, em pacotes de açúcar já embalados pela SEMPA – Sociedade de Empacotamento Automático e mais tarde outro pela SORES – Sociedade de Refinadores de Santa Iria, provavelmente de finais dos anos 60 até finais dos anos 70, surge-nos a imagem inconfundível do Hotel Astória. Estes, aliás, farão parte de outras tantas séries constituídas por 4 pacotes de açúcar com a imagem, para além do Hotel Astória, do Palace Hotel do Bussaco, do Curia Palace Hotel e do Hotel Praia-Mar em Carcavelos (destes falarei aquando da publicação da história desses hotéis).

Finalmente, após um “vazio” de aproximadamente duas décadas sem pacotes de açúcar personalizados, os Hotéis Alexandre de Almeida voltam, desde 2003, a disponibilizar aos seus hóspedes (e para contentamento de nós, colecionadores) um novo “cartão de visita”, ostentando na sua face principal o símbolo desta cadeia de hotéis e o nome dos hotéis que a têm vindo a integrar.

Aqui fica a minha homenagem ao industrial António de Almeida e à sua família que têm sabido, ao longo de três gerações, preservar e aumentar o seu legado, fazendo com que o Grupo Hotéis Alexandre de Almeida, que comemorou os 100 anos em 2017, seja considerado o mais antigo grupo hoteleiro português.

Quanto ao Hotel Astória, que comemorará o seu centésimo aniversário em 2026, continua de portas abertas a quem queira pernoitar no centro de Coimbra, constituindo um cenário perfeito para uma evasão nostálgica ao passado.

Partilho a pagela em formato pdf, que poderão descarregar aqui.

Nota 1: Algumas das imagens dos pacotes de açúcar apresentados na pagela, bem como a numeração dos mesmos, fazem parte do “Catálogo de Pacotes de Açúcar de Hotéis e outros alojamentos” do colecionador e amigo Carlos Dias publicado em http://sugardiashoteis.atwebpages.com/.

Nota 2: Post publicado inicialmente a 31 julho 2021 em https://www.facebook.com/pacoteca.acucar

Fontes: 

- Restos de Colecção, “Hotel Astória em Coimbra”, https://restosdecoleccao.blogspot.com/2011/09/hotel-astoria-em-coimbra.html; 

- Hotéis Alexandre  de Almeida, Hotel Astória, https://www.almeidahotels.pt/pt/hotel-astoria-coimbra 

- A’ Cerca de Coimbra, “Coimbra: Hotel Astória 2”, https://acercadecoimbra.blogs.sapo.pt/coimbra-hotel-astoria-2-131562; 

- Fragmentos da Memória Coimbrã, https://www.facebook.com/groups/fragmentos.memoria.coimbra  


Neocel e Danisco, símbolos de uma mesma Fábrica Impressora

A empresa Impressão e Manufactura NEOCEL, Lda foi fundada em 21/11/1952, desenvolvendo a sua atividade no setor de embalagens e papel de cartão, com sede na Av. Marechal Gomes da Costa 6, em Lisboa. 

Como exemplos, serão da década de 60, 70 e 80 os pacotes de açúcar publicitários das imagens 1, 2 e 3 onde a empresa impressora NEOCEL aparece com as referências “NEOCEL-LISBOA”, “N.L.” e “NEOCEL”. Embora não se consiga definir um padrão temporal exato na utilização destas diferentes “marcas”, de uma pequena amostra realizada, podemos dizer que o termo “NEOCEL-LISBOA” aparece, predominantemente, em pacotes de açúcar das décadas de 60 e 70. Já as iniciais “N.L.” surge habitualmente em pacotes de açúcar da década de 80 e o nome “NEOCEL”, menos frequente, será da década de 80, princípios de 90. O aspeto gráfico bem como o espaço disponível para a colocação da marca da empresa impressora poderão também terem sido fatores para a utilização de uma ou outra “marca”.


Num pacote de açúcar já de 1987, comemorativo do Centenário da Câmara de Comércio e Indústria Luso-francesa, surge o nome Neocel com um “N” estilizado que acompanha toda a palavra (imagem 4). 

Entretanto, chegados ao último quartel do século XX, a indústria europeia de embalagens é caraterizada por uma extrema fragmentação, muito em resultado do rápido aumento de consumos iniciado nos anos 1960 que, por sua vez, fez crescer a distribuição em larga escala e consequentemente o número de empresas de embalagens.

No entanto, com o aproximar do levantamento das barreiras ao comércio interno na União Europeia (1992), deu-se uma onda de fusões, aquisições e alianças estratégicas transfronteiriças entre várias empresas, ao qual as empresas de embalagens não foram alheias.

É assim que, em outubro de 1988, é aprovada a fusão entre a área de embalagens da empresa inglesa Metal Box com a francesa Carnaud SA, dando origem à empresa gigante Carnaud Metal Box Packaging. Oficialmente, a CMB Packaging nasce a 1 de abril de 1989, criando assim a maior empresa de embalagens da Europa e a terceira a nível mundial. A recém-criada empresa, com sede em Bruxelas, ficará assim com mais de 145 fábricas em 21 países e empregará cerca de 37.000 pessoas em todo o mundo.

Na sua ascensão com vista à liderança do mercado global, a CMB Packaging procedeu, em 1990, à aquisição de cerca de 50 empresas dos segmentos de embalagens de metal, plástico e multi-material (flexíveis), espalhadas por vários países da Europa, África e Ásia. Muitas destas empresas, no entanto, optaram por manter a sua anterior designação ou ligeiramente alterada por forma a incluir no seu logótipo “CMB Packaging”. Já anteriormente a esta fusão, a francesa Carnaud SA tinha avançado com uma onda de aquisições estratégicas, ascendendo a 28 empresas no período de 1985 a 1989.

Terá sido nesta frente de aquisições que a empresa portuguesa Neocel foi integrada na área das embalagens flexíveis da CMB Packaging. Será deste período, ou provavelmente do período de aquisições por parte da Carnaud SA, o pacote de açúcar comercial da imagem 5, onde, para além do nome NEOCEL estilizado, já anteriormente referido, e do slogan “Venda mais… embalando melhor” em português, francês e inglês, surge também, em destaque, um símbolo de um rolo de papel desenrolado que nos remeterá para a letra “N” de Neocel. Seguramente, deste período inicial da nova fase da Neocel é o pacote de açúcar comercial da imagem 6 onde, para além deste novo símbolo, surge uma nova designação, Neocel – Embalagens Flexíveis, bem como referência às outras empresas que, nesta altura, integram a CMB Flexible Packaging, dispersas por França, Alemanha, Inglaterra, Itália, Espanha e Portugal. 

Como exemplo de um pacote de açúcar publicitário do período em que a Neocel se apresentou com este símbolo, muitas vezes designado entre alguns colecionadores por “cobrinha”, mostro na imagem 7 um exemplar com publicidade ao musical de Filipe La Féria, “Maldita Cocaína”, estreado no Teatro Politeama de Lisboa em 1992.


Entretanto em fevereiro de 1996, dá-se a junção do grupo europeu Carnaud Metalbox com a gigante americana Crown Cork & Seal, criando assim um novo líder mundial no mercado das empresas de embalagens, com cerca de 52.000 empregados e 350 fábricas espalhadas pela América, Europa e Ásia. 

No entanto, o ramo das embalagens flexíveis fica de fora deste negócio, tendo a empresa multinacional dinamarquesa Danisco A/S adquirido, a 24 de novembro de 1995, a empresa CMB Flexible Packaging que detinha, nesta altura, cerca de 12% do mercado em França, 5% em Espanha e 20% em Portugal. Esta aquisição, que nesta altura contempla quatro fábricas em França, uma em Espanha e uma em Portugal, num total de 700 empregados, permite à Danisco Flexible deter um leque variado de produtos, tornando-se no quinto maior produtor de embalagens flexíveis da Europa.

A Neocel, agora rebatizada Danisco Flexible Neocel - Embalagens Lda, tem como principal atividade a produção de embalagens em papel (simples ou revestido), alumínios, complexos (duplex e triplex), películas ou filmes. Estes produtos destinam-se essencialmente às indústrias alimentares, farmacêuticas e de higiene e limpeza, assim como às indústrias de tabaco. Os seus principais clientes são, nesta altura, a Iglo/Fima/Lever, a Iofil, Novadelta, Tabaqueira, Impalsa e Gelgurte.


Assim, a partir desta altura, os pacotes de açúcar produzidos na fábrica da Neocel passam a ostentar o símbolo da “casa mãe” Danisco (imagem 8). Mostro na imagem 9 um exemplo de um pacote de açúcar publicitário com este símbolo, datado de 1997, comemorativo dos 10 anos da gelataria PIAZZA, em Cascais. 

A Neocel acaba por integrar o grupo multinacional Danisco entre 1995 e 2001, já que em julho de 2001 o ramo de embalagens flexíveis da Danisco foi adquirido pela multinacional australiana Amcor, sendo rebatizada para Amcor Flexibles Neocel - Embalagens Lda. Em novembro de 2007 a Neocel abandona as míticas instalações da Av. Marechal Gomes da Costa em Lisboa e muda a sua sede para a Quinta do Anjo, em Palmela.

Atualmente a empresa redirecionou o seu negócio para a área dos plásticos, dedicando-se ao fabrico e embalagens flexíveis para embalamento de alimentos frescos (vegetais e lácteos) e comida pré-preparada.

Ficam assim desvendados mais alguns símbolos e marcas representados em alguns dos nossos pacotes de açúcar, aos quais, por vezes, não damos a devida atenção.

Quem conhece mais alguma informação sobre a história da Neocel e que queira partilhar?

Nota: Post publicado inicialmente a 18 junho 2021 em https://www.facebook.com/pacoteca.acucar

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